quinta-feira, 9 de dezembro de 2010

Desabafo de um pai...

    Quando eu me deparo com um filho que despreza meu amor, minha atenção, meu carinho, e tudo o que já fiz na vida por ele, coloco em cheque minhas próprias convicções pessoais acerca do bem e do mal, do certo e do errado, do ser e do não ser. Vejo nessa ação a preponderância do mal, do egoísmo, da imprudência, nutridos por algumas pessoas dignas da mais profunda piedade, por não terem o que compartilhar com os outros, exceto o mal, o que nunca foi o caso dele. A vida perde um pouco o sentido, a essência, por não conseguir encontrar o ponto em que errei. Talvez tenha amado demais, corrido atrás demais, querido demais sua presença, sofrido demais pela distância e ausência, e demais também, acreditado que tudo isso seria possível somente amando com devoção, a ponto de enxergar não somente as virtudes, mas principalmente os defeitos, com o fim de auxiliar a corrigi-los enquanto havia tempo. O destempero de sua ação, mostra que bebeu do veneno que eu mais temia, tornando meu maior medo realidade. Não quero crer no momento, como prefaciam os espíritas, que os semelhantes se atraem, por ainda não aceitar sua semelhança com os valores que mais abomino na vida. Ainda me resta a fé, abalada, mas não destruída, de que os olhos vendados possam ser despidos do véu negro, enxergando um facho de luz que seja, para como centelha trazer a inspiração necessária, que lhe permita visualizar o mal que propaga com seu silêncio, frieza e insensatez, como quem não importa com o próximo e se faz de dono da verdade, sem aceitar opinião contrária, mas que precisa deixar a sombra e romper em direção da luz para alcançar o esclarecimento e vislumbrar a verdade da vida... Não foi esse o filho que levei para distribuir sopa aos moradores de rua, para dividir o leite com os mais necessitados, para partilhar o pão com os famintos em muitas madrugadas. Não foi esse filho que vi crescer me acompanhando nos poucos finais de semana e parte das férias em que podia tê-lo em companhia, nos passeios ao Zoológico, ao Mutirama, na primeira viagem de avião, nos mergulhos de mãos dadas no mar, no voo de helicóptero pelo Rio de Janeiro, nas festas de aniversário com duplas sertanejas, nas festas escolares, nas centenas de momentos que lutei para que se tornassem únicos e inesquecíveis... Não é a mesma pessoa que me vira as costas agora. Algo aconteceu e se sou culpado foi por amar com sinceridade, e não cobrar nada por isso... Ao contrário daqueles que cobram propagando que abandonaram a vida pela cria, nunca abandonei a minha, pois minha cria sempre fez parte dela. Ao contrário daqueles que afirmam que não refazem sua vida afetiva por ficarem com os filhos após a separação, eu refiz a minha e assim o faria mesmo se tivesse ficado com o filho na minha guarda, porque a minha vida é a vida dele e vice-versa. Ao contrário de quem culpa Deus e o mundo por sua infelicidade, eu os exalto pela oportunidade de crescer que está me proporcionando, na esperança imortal de que a luz resplandecerá, permitindo o esclarecimento a quem se vê transtornado pela incerteza semeada no coração, que um dia será aplacada quando a verdade lhe arrancar a venda que não lhe permite enxergar com clareza o que ocorre à sua volta... E que assim seja!

2 comentários:

  1. Que assim seja!!!!Não se despreza um sentimento tão sublime como o amor, dessa forma.O desprezo e a indiferença, queira Deus, são imperceptíveis para quem não tem maturidade suficiente.Mas quando o tempo correr, trarão consequências irreparáveis, que com maturidade ou não, serão sofridas.Se vc é desdenhado por um, saiba que tem muitos ao seu redor que te amam muito e que rogam a Deus por sua felicidade e paz!

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  2. Obrigado minha irmã!!!A certeza de que exista algo Divino em tudo é onde busco amenizar a dor. Só espero que a flor não se transforme em espinho e o remédio em veneno...

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